Em
Rio Branco, capital do Acre, se não bastasse tanto sofrimento em virtude da
alagação, moradores abrigados no parque de exposição denunciam coação e
constantes violações de seus direitos constitucionais fundamentais, como os de
liberdade de expressão e o de ir e vir.
O
local que antes servia como acolhida aos desabrigados e cenário utilizado
periodicamente para promoção política dos seus, atualmente é palco de coações,
perseguição e abuso de poder.
Na
entrada do parque, policiais fazem o controle de quem entra e sai do lugar.
Agentes do IAPEN e da Policia Militar abordam qualquer abrigado ou visitante
que se aproximam do portão de acesso ao parque.
A
impressão de quem entra é que o local foi transformado em um novo sistema
prisional, um novo tipo de penitenciária com características de campo de
concentração, com a sutil diferença de que ali não moram meliantes ou
refugiados de guerra. Ao contrário, pais de famílias, trabalhadores e até
funcionários públicos que não têm para onde ir, devido a perda de suas casas na
alagação, dividem abrigos improvisados na esperança de que o poder público
apresente soluções para seus problemas.
Na
entrada da administração, também foi instalado um espaço provisório da
Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Rio Branco, local onde encontramos
várias famílias desamparadas e sedentas por informações, afinal suas vidas
estão “nas mãos” do poder público, as quais somente são alimentadas com meras
promessas.
Ter
acesso aos boxes ou conversar com a Assessoria de Comunicação de Raimundo
Angelim (PT) dentro do parque é algo proibido e sujeito a ação da polícia. Da
entrada até a administração, policiais fazem a escolta de qualquer pessoa que
queira entrar e conversar com os moradores ou funcionários da prefeitura, num
sistema similar ao de revista nas penitenciárias mais perigosas do país.
Para
entender o regime de lei do silêncio e da força implantado pelos governos
Estadual e Municipal, nossa reportagem somente conseguiu realizar a entrevista
com a desabrigada Maria Auxiliadora de Araújo do lado externo do Parque de
Exposição.
Hoje,
com 24 anos e mãe de duas filhas, Maria tem seus direitos fundamentais tolhidos
justamente por representantes da área de Comunicação do município. “Aqui a
imprensa é constantemente barrada, eles não deixam entrar e mostrar a
realidade, e quando percebem que falamos com a imprensa nos tratam como se
tivéssemos cometido um grave crime, inclusive querendo barrar nossa entrada no
Parque”, desabafa Maria.
A
dona de casa Gislane Gomes de Freitas (21), conta como é o acesso da imprensa
ao local: “Antes, o acesso da imprensa era livre, agora proíbem a entrada de
qualquer repórter. Quando eles percebem que falamos com qualquer jornalista,
ficam soltando piadas, nos tratando com desprezo, fazendo birra e nos
coagindo”, denuncia Gislane.
João
Batista Cunha conversava com nossa equipe de reportagem na entrada do parque,
quando necessitou retornar para seu Box, e com intimidação o policial militar o
abordou. “Me pararam, disseram pra andar devagar, dizendo que eu estava muito
alterado e sem mais nem menos o policial tentou me intimidar, me acompanhando
até o Box, simplesmente porque falei com vocês”, denuncia João.
Segundo
os moradores que ainda estão no local, várias famílias saíram do alojamento
oprimidas e com medo de retaliações. No momento, 180 famílias ainda não
retornaram para seus lares, tendo em vista que muitos perderam tudo que tinham,
alguns tiveram suas casas literalmente levadas pela chuva. Enquanto isso, a
prefeitura já deu o ultimato: quarta feira (21) encerra o prazo de permanência
e todos deverão retornar para suas casas.
O
clima para quem chega ao local é de extrema tensão, no momento em que
apurávamos a matéria procuramos a administração do parque para coletar dados e
gravar entrevistas com os representantes. Na recepção encontramos o assessor de
Comunicação da Prefeitura de Rio Branco, Oly Duarte, a quem solicitamos uma
entrevista.
De
forma inesperada, sarcástica e contrária aos direitos fundamentais elementares
da profissão, especialmente no tocante a liberdade de imprensa, Oly simplesmente
iniciou uma sabatina de perguntas, questionando qual grupo político financiava
o site.
O
fato foi testemunhado por várias pessoas, inclusive pela entrevistada Maria
Auxiliadora de Araújo. Oly Duarte exigiu da equipe a ficha técnica dos
responsáveis pelo veículo de comunicação Acrealerta.com e de forma irônica
perguntou para qual partido político operávamos, dando a entender claramente
que somente poderíamos fazer a reportagem se fôssemos ligados ao seu grupo
político (PT).
Se
não bastasse a postura lamentável do representante da área de Comunicação do
governo petista, Oly tentou apreender o telefone celular que estava sendo
utilizado pela reportagem, com receio de que a conversa estivesse sendo gravada
sem sua autorização. Tudo isso foi acompanhado sob atenção de um agente do
IAPEN, que nos escoltou até a saída do Parque.
Insatisfeito
pelo ocorrido fomos por diversas vezes fotografados por dois funcionários que,
disfarçadamente, conversavam no portão de entrada na tentativa de inibir nosso
trabalho ou impor a lei do silêncio a qualquer custo.
Esse
é o método petista de agir. O partido aprendeu ao longo dos 13 anos de poder
absoluto que um bom modo de tratar a imprensa que não se rende aos seus
“encantos” e fábulas, é aos tapas e pontapés. Aprendeu ainda que a intimidação,
infelizmente, tem funcionado. Até quando? Não podemos afirmar. Mas essa mídia
não se rende a pressão. Nesse sentido, denunciaremos todo e qualquer ato de
sensura e coação dos direitos fundamentais da imprensa livre, não em defesa da
“mídia”, mas da democracia.
Wanglézio
Braga
Do
Acrealerta.com
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