quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013


FH diz que Lula atua ‘como uma espécie de presidente adjunto’

  • Fernando Henrique participou de um seminário organizado pela Casa da Artes, na Gávea, Zona Sul do Rio


FH participa de seminário: PT ‘tem o mensalão na testa’
Foto: Marcelo Piu / Agência O Globo
O GLOBO - RIO E BRASÍLIA- O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) alfinetou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta sexta-feira, em evento no Rio. Disse que o petista está inaugurando um novo cargo, o de “presidente adjunto”, já que é um dos principais articuladores das decisões do governo Dilma Rousseff, e tachou a relação do PT com seu governo de caso de “psicanálise”. FH participou de seminário organizado pela Casa das Garças, na Gávea, Zona Sul do Rio, em homenagem aos 70 anos do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan.


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Dilma na Guiné Equatorial e eu quando fui preso e deportado...


Dilma na Guiné Equatorial e eu quando fui preso e deportado...





Lendo o noticiário à propósito da viagem da presidenta Dilma a mais uma dessas cúpulas onde se copula politicamente muitas ideias, mas não se fecunda nada, relembrei das minhas aventuras como membro de uma precursora e bem eclética equipe de marketing político pela África no início dos anos 90, liderada por Geraldo Walter de Souza Filho, o saudoso Geraldão, com as presenças ilustres de Ricardo Noblat, Fernando Barros, Ana Maria e os não menos ilustres Maurício Rossi, Hamilton Oliveira, Nestor Amazonas e muitos outros. Fizemos um trabalho muito rico em experiências com o MPLA em Angola que - não por culpa nem por puro mérito nosso - ainda se perpetua no poder desde dos anos 70, sempre com a ajudinha de brasileiros.

Mas o caso que vou relembrar se refere a uma viagem para a Guiné, onde se dizia que o ditador de então e ainda hoje mandatário supremo do país, pretendia fazer uma abertura política. Havia um partido oposicionista exilado em quase sua totalidade na Europa, há longos 14 anos, depois do sanguinário golpe perpetrado por este que até hoje esta no poder. Ele simplesmente havia matado o tio que era o presidente e mais quatro mil opositores ao passar de uma semana no poder.

Ricardo e Geraldão foram convencidos que lá teríamos uma outra campanha política, desta feita levando à disputa um partido oposicionista ao poder. "Com o povo, pelo povo e para o povo", já seria copiado por nós nessa época.

Pois, então, formou-se uma equipe composta por quatro bravos guerreiros do marketing que na companhia do líder oposicionista, na época exilado em Madrid, chegariam na capital Malabo, para documentar o início das negociações entre oposição e governo para a tão sonhada abertura política.

O plano era chegar em Douala, na República dos Camarões, pegar os vistos na embaixada da Guiné, seguir para São Tomé e Príncipe, onde Miguel Trovoada, presidente, receberia e apoiaria como intermediário o nosso cliente e de lá partiríamos para o ilhéu capital Malabo, 300 quilômetros do continente. Como todos podem observar, uma capital geograficamente confortável para qualquer ditador - imagina Brasília nessa situação.

Lá fomos nós, saindo de São Paulo no dia 08 de Dezembro de 1993.

Eu, Ruy Rodrigues, Popy Ribeiro, e um outro sujeito que não me recordo o nome dele agora. Acho que esse branco com relação ao companheiro que esqueci o nome não é por acaso e vocês vão perceber o porquê mais na frente.

Desembarcamos em Zurique, na Suíça, de lá seguimos para Douala cruzando o deserto do Saara numa classe executiva tomando champanha e comendo canapés da Swissair. Uma maravilha! Lá em baixo e bem pequenininho, víamos as torres de exploração de petróleo no maior deserto do mundo e cá as branquelas nos servindo no maior conforto possível.

Chegamos em Douala. Uma cidade onde se via a destruição das florestas africanas sendo transportadas pelas centenas de carretas que circulavam pelas ruas da cidade dividida por etnias e gangues fomentadas, desde a sua ocupação, por ingleses e franceses. Por sinal, um aspecto bastante peculiar eram os bairros divididos até mesmo pela língua. Haviam uns em que se falava francês e outros em que se falava inglês. Até a propaganda de outdoor era - a mesma - em uma língua e em outra. Na época, lá também estava acontecendo uma campanha política e o cartaz de um dos candidatos ostentava um bem produzida foto dele ao lado de um imponente e ameaçador leão, apoiado num criativo e não menos ostensivo slogan: “Homem coragem, homem presidente!”.



Conseguimos os vistos, como já havia sido planejado. Em Douala, encontraríamos com o nosso cliente que a partir dali seguiria conosco até o glorioso dia do retorno à pátria amada.

Hospedados no hotel Meridien, passávamos o tempo na piscina bebendo lá pressione - grandes canecas de chopp - enquanto Ruy não se cansava de medir a temperatura local dentro e fora da piscina com um moderno relógio que havia adquirido na Suíça e que contava com esse indispensável(?) serviço meteorológico.

Vistos em Mãos, partimos para São Tomé. Oh vidão! Hotel Tivoli, praias maravilhosas e uma interminável espera pela recepção - encontro oficial - do presidente Miguel Trovoada. Comendo, bebendo e dormindo. Foi lá que apreciei pela primeira vez os saborosos bifes de tartaruga e carne de macaco oferecidos em pequenos restaurantes do povo local. No hotel nem pensar nessas iguarias.

Amanhecia e anoitecia e nem sinal de “Trovoadas”. O tempo firme e céu límpido fazia soprar sobre as nossas mentes uma certa incerteza de que começava a ficar difícil chover em nossa horta. Quero dizer o seguinte: como haviam sucessivos adiamentos do encontro entre nosso cliente e o nosso principal interlocutor político, tudo levava a crer que algo não estava dando certo.

Aí chega a hora de contar um fato curioso. Depois de uma semana na bela ilha de São Tomé, o candidato nos chama e diz que teríamos de ir ao Gabão encontrar com outra figura de pouca conversa, mas de muita ação. O ditador Omar Bongô nos aguardava para uma reunião. Nos aguardava, assim como, cara pálida? Ele só iria se fosse acompanhado por nossa equipe. Daria um certo status e também garantiria sua integridade física. Como assim sua integridade física? Estávamos correndo algum perigo de vida?

Foi aí que nosso bravo companheiro que, até agora, não lembro a alcunha, amarelou e pediu pra ir embora, abandonando de vez a nossa briosa expedição.

E lá fomos nós para o Gabão. Chegamos e fomos recebidos em almoço pelo presidente no palácio de governo numa pompa só. Depois do lauto banquete o nosso cliente foi ao tete-à-tete com famoso ditador que usava botas com salto falso tentando esconder sua baixa estatura física e, também, moral.

Ao pedirmos as contas no hotel fui surpreendido por uma chamada à suíte do nosso cliente - ele só se hospedava em suíte, dava status. Foi ai que as coisas começaram a ficar mais turvas. O nosso querido cliente me chamou ao canto da sala de estar da suíte e quase cochichando - talvez para a esposa não escutar e se matar - me pediu 100 dólares. Quase caí para trás...

Quando de volta ao encontro dos companheiros, relatei o ocorrido e ouvi um sonoro: fudeeeeeeeu!

Voltamos para São Tomé com o moral baixo. E bote baixo nisso!
Ligamos para o Brasil e os caras - Ricardo e Geraldo - deram um bando de gargalhadas e tentaram nos tranquilizar dizendo que os problemas financeiros dele não eram nossos e que isso poderia ser algo como ter esquecido de levar os dólares dele para a furtiva viagem ao Gabão.

O Natal se aproximava e o dia do desembarque em Malabo se revestia de expectativas.  A essa altura queríamos entregar o mandú e voltar para o nosso doce lar no Brasil.
Até porque, como se diz lá no Recôncavo da minha Bahia, tudo indicava que "aquele angu tinha caroço".

Comendo e bebendo dia e noite num hotel cinco estrelas num paradisíaco arquipélago, eu engordava que nem uma porca. Era pão, vinho, peixe e muito bacalhau. Foi ai que dei de cara com uma dúvida que me perturba até hoje: bacalhau é peixe?

Vésperas do Natal e nosso cliente nos chama e sentencia: depois de amanhã rumamos para Malabo. Mesmo sem as bênçãos de Miguel Trovoada, que até aquele momento não tinha dado as caras com a gente, estava tudo certo e tranquilo para aterrissarmos na famigerada capital da Guiné.

Só que teríamos de alugar um avião para o translado, pois sem o apoio logístico prometido por Trovoada, se não fosse de avião fretado, só de saveiro navegando por uns sete longos dias.

Conseguimos um bimotor pertencente a um mercenário libanês que, por três mil dólares, ele levava a trazia a trupe. Tudo acertado, partimos no início da tarde do dia 22 de dezembro.

Notei que dentro do avião o nosso cliente suava um pouco fora do normal, até porque dentro da aeronave estava até fazendo frio. Mas... vamos em frente.



Depois de quase 90 minutos de voo, o piloto num português sofrível relata que estava sendo observado por dois caças. Logo em seguida começa um diálogo pouco amisto e muito objetivo que, mesmo entre ruídos da comunicação via rádio, conseguíamos ouvir um sonoro "go back!". Em seguida e sem pestanejar o nosso bravo mercenário fez o que no surf se chama de manobra radical e em segundos a proa deu lugar a popa e já navegávamos de volta ao arquipélago do escroto do Trovoada.

Um silêncio ensurdecedor tomou conta de todos dentro da minúscula aeronave e depois que alguém peidou, respiramos profundamente e quase que em uníssono perguntamos: o que foi que aconteceu?

O libanês que mais parecia um Nacib corneado, gaguejando respondeu que eles - os amigos dos caças - mandaram voltar dali mesmo senão derrubariam nossa aeronave libertária.

Mais gaguejando que nosso colega baiano, Gaguinho Fotógrafo, nosso cliente tentava esboçar uma explicação para o ocorrido e esbravejava um "isso não vai ficar assim".

Pousamos na nossa segura ilha decididos a abandonar tudo e tentar retornar depois do réveillon de 1994.
Nossos chefes Geraldão e Noblat nos "convenceram" a passar o Natal por lá, nos garantindo que contatos da Europa teriam assegurado que tudo não passava de ruído na comunicação - eles gostavam muito dessa expressão - e que logo após o "nascimento do menino Jesus" nos seríamos recebidos com festa em Malabo, onde a promissora oposição estava com tudo organizado para a uma grande recepção.

Neste Natal de 1993, acredito que ganhei uns cinco quilos de gordura adiposa com tantas guloseimas numa ceia maravilhosa feita apenas para nós, os únicos hóspedes do hotel a ficarem para passar o Natal por lá. Naquela época, não se fazia muito turismo por aquelas bandas como hoje.

Dia 28 chegou com a certeza de que a nossa expedição seria coroada de glórias. E fomos nós mais uma vez com o mercenário libanês voando rumo a Malabo no final da tarde. O horário havia sido determinado pelo cliente depois de falar com correligionários e acertar os pormenores da chegada, com carreata e comício na praça da capital numa noite que anunciaria o alvorecer de uma nova era para o povo da Guiné.

A viagem foi tranquila, os caças não nos afugentaram e pousamos como previsto no início da noite. Ao nos aproximarmos do hangar de desembarque, achei meio estranho que as milhares de pessoas previstas na calorosa e garantida recepção não podiam ser vistas no mirante do aeroporto.



E fui ficando um pouco apreensivo quando percebi um pelotão bem armado do exército com cara de poucos amigos a nos aguardar na pista.
 Um silêncio mais ensurdecedor ainda que o da primeira viagem assolou o interior do nosso bimotor.

Paramos e antes mesmo que o avião desligasse de vez os motores, alguém abriu a porta aeronave e entre olhares fui escolhido para ser o primeiro a pisar em solo ilhéu.



Fui também o primeiro a apresentar o passaporte e ser preso imediatamente. tentei argumentar que tinha um visto devidamente oficializado pela embaixada em Douala e um calango de patente pediu que eu localizasse o tal visto no passaporte e o apresentasse. Logo que o mostrei, ele sacou um lápis e escreveu sem titubear: cancelado com exclamação no final. Assim foi comigo e com todos os outros da equipe. Nosso cliente, Dom Carmello, foi se afastando de nós sob escolta e depois de algumas horas detidos e sem saber o que poderia acontecer, recebemos um ordem imediata de embarque e assim  fomos expulsos da, hoje promissora república petrolífera africana, onde nossa chefe de Estado se encontra para discutir investimento sob o manto de mais uma ditadura sanguinária de mais de 30 anos. Mas esse negócio de ditadura nunca incomodou o atual partido que governa o Brasil há 10 anos. Até porque ditadura no país dos outros é refresco.

Ah, antes que se fechasse as portas da aeronave eu tive a pachorra de gritar: Adiós, Dom Carmello, adiós!!!

P.S.: Inicialmente detido, nosso bravo opositor de esquerda logo virou um destacado executivo da empresa petrolífera do regime ditador e, pelo que se vê hoje nas noticias sobre essa cúpula, deu certo e prosperou. E a tal democracia que ele representava como baluarte da esperança do seu povo sofrido ficou para depois. Bem depois!

Texto de José Américo Moreira da Silva
Fotos de Popy Ribeiro (Exceto a aérea que é do google)